Doença Bipolar A doença bipolar é uma perturbação do funcionamento cerebral que provoca variações no humor muito intensas e, consequentemente, mudanças nos níveis de energia e de atividade e também na capacidade de executar as tarefas do dia-a-dia. |
Quando o equilíbrio se perde
A doença bipolar é uma perturbação do funcionamento cerebral que provoca variações no humor muito intensas e, consequentemente, mudanças nos níveis de energia e de atividade e também na capacidade de executar as tarefas do dia-a-dia.
Nas pessoas com doença bipolar as variações do humor muito intensas, envolvem fases de depressão e de mania ou hipomania. Uma fase pode predominar numa mesma pessoa e demorar dias, semanas ou meses.
A doença pode começar em qualquer idade, durante ou depois da adolescência, mas metade de todos os casos começa antes dos 25 anos de idade. Algumas pessoas têm os primeiros sintomas na infância, enquanto noutras a doença começa mais tarde.
Investigação online em curso TEM SINTOMAS DE BIPOLARIDADE? |
Atualização (12 mar 2018): Entre 2012 e 2014 responderam 22 pessoas. A média de idades foi de 27 anos. A maior parte das pessoas a responder tem sido do sexo feminino (63,6%), licenciada (31,8%) ou com 12º ano (31,8%). Trinta e seis por cento são pessoas com doença bipolar diagnosticada.
Quais são os sintomas da doença bipolar?
Os sintomas da doença bipolar são graves e são diferentes dos altos e baixos que qualquer pessoa pode ter ocasionalmente.
As mudanças de humor provocam alterações nas emoções, ideias e comportamentos, podendo implicar o prejuízo dos relacionamentos e o fraco desempenho escolar ou profissional.
No entanto, a doença bipolar pode ser tratada e as pessoas com esta doença podem ter vidas completas e ricas.
Na fase de mania predominam os sintomas |
• Humor elevado • Euforia ou irritabilidade • Excesso de energia • Reação excessiva aos estímulos • Alterações emocionais súbitas • Pensamento e fala acelerados • Aumento do amor-próprio • Aumento de interesse em várias atividades • Diminuição das necessidades de dormir e comer • Aumento da vontade sexual |
Na fase de hipomania predominam os sintomas |
• Aumento de energia e atividade (não tão severos como na mania) • Sentimento de bem-estar • Aumento da produtividade Nesta fase, a pessoa pode sentir que não há nada de errado. No entanto, sem o tratamento adequado, a pessoa pode evoluir para depressão ou mania grave. |
Na fase de depressão domina |
• Humor triste • Desespero • Ideias de culpa, inutilidade, fracasso ou de morte • Perda de interesse • Insónia ou hipersónia • Diminuição da vontade sexual |
Por vezes, as pessoas com fases graves de mania ou depressão podem ter sintomas psicóticos, como delírios ou alucinações. Os sintomas psicóticos tendem a refletir o estado de humor extremo em que a pessoa se encontra. Por exemplo, os sintomas psicóticos num episódio de mania podem incluir a crença de que se é famoso ou de que se tem poderes extraordinários. Da mesma forma, em fase de depressão, os sintomas psicóticos podem envolver a crença de que se está arruinado ou de que se cometeu um crime.
As pessoas com esta doença podem também desenvolver outros problemas de comportamento, como alcoolismo, dependência de drogas/medicamentos, conflitos relacionais, desempenho escolar fraco ou desemprego. Há que ter em conta que o consumo de álcool ou drogas pode piorar os sintomas bipolares. São também comuns outras doenças, tais como perturbações de ansiedade (p. e., perturbação de stress pós-traumático, perturbação de pânico, ou fobia social), perturbação de défice de atenção, doenças da tiroide, enxaquecas, doenças cardíacas, diabetes e obesidade.
Como é que a doença bipolar evolui ao longo do tempo?
A doença bipolar geralmente dura uma vida inteira. Os episódios de mania e de depressão normalmente regressam ao longo do tempo. Entre os episódios, muitas pessoas com doença bipolar estão livres de sintomas, mas algumas pessoas podem ter sintomas persistentes.
De acordo com o Manual Estatístico das Doenças Mentais há quatro tipos de doença bipolar:
Perturbação Bipolar I que se define por episódios de mania ou mistos que duram sete dias ou por sintomas de mania tão graves que a pessoa precisa de internamento hospitalar. Habitualmente, a pessoa tem também fases de depressão que duram pelo menos duas semanas.
Perturbação Bipolar II que se define por um padrão de episódios depressivos alternando com episódios de hipomania.
Perturbação Bipolar Sem Outra Especificação que consiste numa doença sem os critérios de diagnóstico anteriores, mas em que os sintomas estão claramente foram do âmbito de comportamento normal da pessoa.
Perturbação Ciclotímica que é uma forma moderada de doença bipolar e em que a pessoa tem episódios de hipomania alternados com episódios de depressão moderada.
Algumas pessoas podem ser diagnosticadas com perturbação bipolar de ciclos rápidos. Nesta perturbação, as pessoas têm quatro ou mais episódios de depressão grave, mania, hipomania ou misto num ano. Algumas pessoas fazem viragens de humor numa semana, ou mesmo num dia. Esta perturbação é mais comum em pessoas com doença bipolar grave, em pessoas que desenvolveram a doença em idades mais jovens e em mulheres.
A doença bipolar e as consequências pessoais e sociais têm tendência a piorar se a doença não for tratada. Ao longo do tempo, a pessoa pode ter episódios mais frequentes e mais graves do que no início da doença.
O diagnóstico e o tratamento apropriados ajudam as pessoas com doença bipolar a levarem uma vida saudável e produtiva. Na maioria dos casos, o tratamento pode ajudar a reduzir a frequência e a gravidade dos episódios.
Quais são as causas da doença bipolar?
As causas da doença incluem aspetos genéticos e cerebrais. No entanto, as fases da doença podem ser desencadeadas por aspetos comportamentais (alteração das rotinas quotidianas e privação do sono), pelo tipo de personalidade, pelos acontecimentos de vida ou por comportamentos altamente dirigidos para um objetivo.
A doença bipolar tem tendência a ocorrer em famílias: crianças com pais ou irmãos com esta doença têm uma probabilidade 4 a 6 vezes maior comparada com crianças cujas famílias não têm a doença. No entanto, os estudos com gémeos verdadeiros têm mostrado que o gémeo da pessoa doente nem sempre desenvolve a doença.
Como se diagnostica a doença bipolar?
O médico ou psicólogo são as pessoas indicadas para fazer o diagnóstico. Ambos podem fazer uma entrevista clínica e questionar a família para garantir que fazem o diagnóstico correto. O médico fará análises, exame neurológico, ou imagiológico para eliminar outros diagnósticos possíveis.
O maior problema decorre do facto de o doente procurar principalmente ajuda quando está deprimido, pelo que a recolha de informação deve ser cuidadosa, envolvendo as pessoas que conhecem bem o doente.
Como se trata a doença bipolar?
Atualmente não há cura para esta doença, mas há tratamentos que ajudam a pessoa com doença bipolar (incluindo as formas graves) a controlar as viragens de humor e os sintomas.
Para além do tratamento medicamentoso, que habitualmente é para toda a vida, é importante a psicoterapia. Ambos os tratamentos ajudam a prevenir recaídas e a reduzir a gravidade dos sintomas. Cabe ao doente perceber que é essencial a manutenção das rotinas diárias e o envolvimento em atividades calmas e não stressantes.
Perturbação Bipolar: Conceitos-chave de recuperação |
• Esperança. Com a boa gestão de sintomas, é possível experimentar longos períodos de bem-estar. Acreditar que pode lidar com a sua doença bipolar é tão preciso como essencial para a recuperação. • Perspetiva. A depressão e a mania-depressão seguem muitas vezes padrões cíclicos. Embora possa passar por alguns momentos dolorosos e possa ser difícil de acreditar que as coisas vão melhorar, é importante não perder a esperança. • Responsabilidade pessoal. Cabe a si tomar medidas para manter o seu humor estabilizado. Isto inclui pedir ajuda a outras pessoas quando precisar dela, tomar a sua medicação como prescrito e manter compromissos com seus provedores de cuidados de saúde. • Auto-representação. Torne-se um defensor eficaz de si mesmo, para que possa obter os serviços e tratamento que precisa, e fazer a vida que quer para si mesmo. • Educação. Saiba tudo o que puder sobre a sua doença. Isso permite-lhe tomar decisões informadas sobre todos os aspetos de sua vida e do seu tratamento. • Suporte. Cabe-lhe a si trabalhar para o seu bem-estar. No entanto, o apoio dos outros é essencial para manter a sua estabilidade e melhorar a sua qualidade de sua vida. |
Fonte: Depression and Bipolar Support Alliance.
Referências
Este texto baseia-se ou adapta os textos seguintes:
Akiskal, H. S. (2005). Mood disorders: Clinical features. Em B. J. Sadock, V. A. Sadock (Eds.), Kaplan & Sadock’s comprehensive textbook of psychiatry. Filadélfia: Lippincott Williams & Wilkins.
American Psychiatric Association. (2000). The diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-IV-TR), (4.ª ed., texto revisto). Washington, DC: APA.
Bizzarri, J. V., Sbrana, A., Rucci, P., Ravani, L., Massei, G. J., Gonnelli, C., Spagnolli, S., Doria, M. R., Raimondi, F., Endicott, J., Dell’Osso, L. e Cassano, G. B. (2007). The spectrum of substance abuse in bipolar disorder: reasons for use, sensation seeking and substance sensitivity. Bipolar Disorder, 9(3), 213-220.
Fountoulakis, K. N., Kasper, S., Andreassen, O., Blier, P., Okasha, A., Severus, E., … Vieta, E. (2012). Efficacy of pharmacotherapy in bipolar disorder: a report by the WPA section on pharmacopsychiatry. European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience, 262(Suppl 1), 1–48. doi:10.1007/s00406-012-0323-x
Fusar-Poli, P., Howes, O., Bechdolf, A., & Borgwardt, S. (2012). Mapping vulnerability to bipolar disorder: a systematic review and meta-analysis of neuroimaging studies. Journal of Psychiatry & Neuroscience, 37(3), 170–184. doi:10.1503/jpn.110061
Goodwin, F. K. e Jamison, K. R. (2007). Manic-depressive illness: Bipolar disorders and recurrent depression (2ª Ed.). Nova Iorque: Oxford University Press.
Kessler, R. C., Berglund, P., Demler, O., Jin, R., Merikangas, K. R., Walters, E. E. (2005). Lifetime prevalence and age-of-onset distributions of DSM-IV disorders in the National Comorbidity Survey Replication. Archives of General Psychiatry, 62(6), 593-602.
Krishnan, K. R. (2005). Psychiatric and medical comorbidities of bipolar disorder. Psychosomatic Medicine, 67(1), 1-8.
Kupfer, D. J. (2005). The increasing medical burden in bipolar disorder. JAMA, 293(20), 2528-2530.
Huxley, N. A., Parikh, S. V. e Baldessarini, R. J. (2000). Effectiveness of psychosocial treatments in bipolar disorder: state of the evidence. Harvard Review of Psychiatry, 8(3), 126-140.
Singh, J., Guang, G. e Canuso, C. M. (2012). Antipsychotics in the Treatment of Bipolar Disorder. Em Gross, G. e Geyer, M. A., Handbook of experimental pharmacology (pp. 187-212). Springer Berlin Heidelberg
Miklowitz, D. J. (2006). A review of evidence-based psychosocial interventions for bipolar disorder. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 67(Suppl 11), 28-33.
Nurnberger, J. I., Jr. e Foroud, T. (2000). Genetics of bipolar affective disorder. Current Psychiatry Reports, 2(2), 147-157.
Schneck, C. D., Miklowitz, D. J., Miyahara, S., Araga, M., Wisniewski, S., Gyulai, L., Allen, M. H., … Sachs G. S. (2008). The prospective course of rapid-cycling bipolar disorder: findings from the STEP-BD. American Journal of Psychiatry, 165(3), 370-377.
Schneck, C. D., Miklowitz, D. J., Calabrese, J. R., Allen, M. H., Thomas, M. R., Wisniewski, S. R., Miyahara, S., … Sachs, G. S. (2004). Phenomenology of rapid-cycling bipolar disorder: data from the first 500 participants in the Systematic Treatment Enhancement Program. American Journal of Psychiatry, 161(10),1902-1908.
Schneider, M. R., DelBello, M. P., McNamara, R. K., Strakowski, S. M. e Adler, C. A. (2012). Neuroprogression in bipolar disorder. Bipolar Disorders, 14(4), 356-374.
Scott, J. e Etain, B. (2011). Which psychosocial interventions in bipolar depression? Encephale, 37(S3), S214-S217.
Selvaraj, S., Arnone, D., Job, D., Stanfield, A., Farrow, T. F., Nugent, A. C., Scherk, H. … McIntosh, A. M. (2012), Grey matter differences in bipolar disorder: a meta-analysis of voxel-based morphometry studies. Bipolar Disorders, 14, 135–145. doi: 10.1111/j.1399-5618.2012.01000.x
Autores: Helena Espírito-Santo, 2012-2014