Esquizofrenia

 

Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença cerebral crónica e grave que se caracteriza pela perda de contato com a realidade.

Ruido

O que é a esquizofrenia?

A esquizofrenia é uma doença cerebral crónica e grave que se caracteriza pela perda de contato com a realidade. É um quadro complexo que envolve sintomas muito típicos. 

A pessoa, durante grande parte do tempo, e num período mínimo de seis meses (menos do que isso e já estamos perante uma doença diferente), passa a funcionar num nível bastante abaixo ao seu funcionamento prévio com pelo menos dois dos sintomas indicados nos quadros em baixo.

É uma doença que atinge cerca de uma pessoa em cada 100 e tem elevada prevalência familiar (1 em cada 10 de familiares diretos), o que aponta para uma causalidade genética, ainda que os fatores ambientais também tenham um papel relevante (especialmente infeções e traumatismos cranianos precoces).

Muitas pessoas com esta doença conseguem manter-se funcionais conservando os seus empregos ou a frequência da escola, embora o mais frequente seja que a esquizofrenia interfira com a atividade ocupacional do doente.

O tratamento, especialmente medicamentoso, ajuda aliviar a maioria dos sintomas da esquizofrenia, mas muitas pessoas aprendem a lidar com os seus sintomas ao longo das suas vidas.

A investigação sobre esta doença é muito intensa e novos medicamentos mais eficazes têm surgido nos últimos anos, esperando-se que com o futuro se perceba melhor as causas desta doença e, assim, tornar os tratamentos ainda mais eficazes.


Quais são os Sintomas/Características da esquizofrenia? 

Os sintomas da esquizofrenia podem ser de quatro tipos diferentes.

Sintomas positivos

Sintomas positivos, infelizmente, não significa que sejam bons, mas sim que são fenómenos novos que a pessoa não tinha antes e que não se encontram em pessoas saudáveis. As pessoas com estes sintomas perdem o contacto com a realidade. Os sintomas positivos podem aumentar ou diminuir ao longo do tempo e, por vezes, desaparecem temporariamente.

• Alucinações — a pessoa vê coisas, sente cheiros, sente coisas no corpo, e ouve coisas que os outros não conseguem sentir. A alucinação mais comum é ouvir vozes. Essas vozes podem falar com a pessoa, comentando o seu comportamento, avisando-o do perigo ou dando-lhe ordens. Às vezes, o doente ouve vozes que falam umas com as outras.

• Delírios — às vezes as pessoas com esquizofrenia podem parecer bem até que falam daquilo que realmente lhes passa pela cabeça. Os delírios são crenças falsas, resistentes ao confronto lógico e racional e diferentes da cultura em que o doente se insere, como por exemplo, acreditar que se é vigiado por câmaras escondidas em casa, que as matrículas dos carros contêm mensagens para si, ou que os familiares o andam a tentar envenenar. Por vezes o doente acredita que é uma pessoa célebre.

• Perturbação do pensamento — consiste em formas invulgares e disfuncionais de pensar. O pensamento pode estar desorganizado: a pessoa pode ter dificuldade em organizar os seus pensamentos ou encadeá-los de forma lógica. Ou o pensamento pode sofrer bloqueios: a pessoa para de repente de falara no meio de um pensamento.

• Discurso desorganizado — Aquilo que a pessoa diz pode não fazer sentido, o que deriva das perturbações do pensamento. O doente pode mesmo desenvolver uma linguagem com palavras novas que os outros não entendem.

Sintomas negativos

Os sintomas negativos consistem em perdas que podem ser negligenciadas e entendidas como parte de outras doenças ou como depressão. As pessoas com estes sintomas necessitam de ajuda diária, pois deixam de cuidar de si nos níveis mais básicos (alimentação, higiene, segurança).

• Discurso empobrecido — a pessoa fala pouco, mesmo quando é forçada a interagir.

• Afeto embotado — esta alteração é notada na face da pessoa que não se move, ou na fala que é monocórdica e monótona.

• Perda da capacidade de iniciar e manter atividades planeadas.

• Perda de prazer no dia a dia.

• Isolamento social.

Sintomas psicomotores

Os sintomas psicomotores consistem em alterações dos movimentos corporais. 

        

• Caretas repetidas — o doente pode fazer caretas e esgares repetidamente, sozinho ou não.

• Mobilidade de plasticina — se o doente ou os seus membros forem movidos por outra pessoa, o doente deixa-se moldar como se o seu corpo fosse de plasticina.

• Catatonia — a pessoa não se move e não responde aos outros. O doente, por exemplo, pode sentar-se durante horas, sem se mover ou falar. Este é um sintoma raro nos dias de hoje devido às medicações existentes.

Sintomas cognitivos

Estes sintomas podem também ser subtis e difíceis de reconhecer, sendo detetáveis através de testes. No entanto, eles têm um impacto importante e negativo no funcionamento diário.

• Funcionamento executivo pobre — o doente tem dificuldades em entender a informação e em tomar decisões.

• Problemas de atenção — o doente tem dificuldade em focar a atenção e em manter-se concentrado.

• Problemas na memória de trabalho — a pessoa tem dificuldades em usar a informação imediatamente depois de ter aprendido.

Subtipos de esquizofrenia

A esquizofrenia pode manifestar-se nos subtipos seguintes:

Tipo paranoide que é dominado por delírios/alucinações auditivas e funcionamento cognitivo e afeto relativamente intactos.

Tipo desorganizado que se caracteriza por discurso e comportamentos desorganizados, afeto embotado ou desadequado.

Tipo catatónico que consiste numa perturbação psicomotora marcada.

O tipo indiferenciado é um tipo de esquizofrenia em que dominam pelo menos dois dos sintomas referidos nas caixas em cima, mas se organizar como os tipos anteriores.

Finalmente, no tipo residual o doente tem pelo menos um episódio de esquizofrenia, sem sintomas positivos atuais, com sintomas negativos ou com sintomas positivos atenuados.


Quando começa a esquizofrenia e quem desenvolve esquizofrenia?

A esquizofrenia afeta de igual modo homens e mulheres. Atinge pessoas de todas as raças no mundo inteiro. Sintomas como alucinações e delírios começam, frequentemente, entre os 16 e os 30 anos. Os homens tendem a manifestar os sintomas um pouco mais cedo do que as mulheres. A maior parte das pessoas não desenvolve esquizofrenia depois dos 45 anos. A esquizofrenia é muito rara em crianças e é muito difícil de diagnosticar em adolescentes porque os primeiros sinais são semelhantes a comportamentos normativos desta faixa etária (mudança de amigos, queda das notas, problemas de sono e irritabilidade). os adolescentes em risco tendem a manifestar uma combinação de fatores preditivos, como isolamento, aumento de suspeitas e uma história familiar de psicose. 


Quais são as causas de esquizofrenia?

As causas de esquizofrenia não ocorrem, aparentemente, isoladamente. Para desenvolver a doença, parece que é necessário um conjunto de fatores:

• Os genes têm um papel importante, provavelmente na produção de alterações químicas cerebrais. A probabilidade de desenvolver esquizofrenia em gémeos verdadeiros é de 40 a 65%.

• O ambiente, acreditam muitos cientistas, é outros aspeto relevante e que se conjuga com o efeito dos genes. Aspetos como a exposição a vírus, má-nutrição antes do nascimento, problemas no parto e outros fatores desconhecidos podem estar envolvidos no desenvolvimento da esquizofrenia.

Química cerebral. Os estudos têm vindo a mostrar um desequilíbrio em substâncias químicas cerebrais que fazem a comunicação entre as células cerebrais (dopamina, glutamato e provavelmente outras).

Estrutura cerebral. Alguns doentes com esquizofrenia têm os ventrículos do cérebro mais dilatados (cavidades no centro do cérebro onde é produzido o líquido cefalorraquidiano). Os cérebros destes doentes tendem também a ter menos substância cinzenta.


Quais são os tratamentos para a esquizofrenia?

Como as causas da esquizofrenia ainda não são totalmente conhecidas, os tratamentos consistem em atuar ao nível dos sintomas. Os tratamentos podem ser medicamentosos e psicossociais.

Tratamento antipsicótico. Os medicamentos que existem desde os anos 50 designam-se por antipsicóticos típicos e incluem a clorpromazina, o haloperidol, a perfenazina e a flufenazina. Nos anos 90 foram desenvolvidos novos medicamentos — os antipsicóticos atípicos — que incluem a clozapina (muito eficaz, mas que às vezes ataca a medula óssea), a risperidona, a olanzepina, a quetiapina, a ziprasidona, o aripiprazole e a paliperidona. Os antipsicóticos, ao fim de seis semanas, tendem a melhorar os sintomas, ainda que as pessoas variem muita na resposta aos medicamentos.

Tratamentos psicossociais. Estes tratamentos ajudam as pessoas que já estão estabilizadas com a medicação. Os tratamentos psicossociais dirigem-se a ajudar as pessoas com esquizofrenia a lidar com as atividades do dia a dia, a tomar a medicação regularmente e a formar e manter relações sociais.

Terapia cognitivo comportamental. Este tipo de terapia pode ser muito útil para ensinar o doente a lidar com sintomas que não desaparecem com a medicação, como, por exemplo, a lidar com as suas alucinações, a testar a realidade dos seus pensamentos e das suas perceções. Esta terapia tem-se mostrado eficaz a reduzir a gravidade dos sintomas e a reduzir o risco de recair.


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Autores: Helena Espírito-Santo e Cláudia Filipe, 2013.