Pânico

 

Pânico

As crises de pânico consistem em episódios repetidos de ansiedade grave e intensa não relacionada com as situações, mas sim com a interpretação que se faz do mundo em volta.

Quando o medo se torna patológico

Ao longo da vida, todos já sentiram emoções como medo e ansiedade. O medo é uma emoção básica que está associada a uma resposta súbita de defesa do organismo perante uma situação de risco. Perante o perigo, o corpo tende a responder com “luta” ou “fuga”.

A ansiedade por sua vez, é uma emoção que se define como uma emoção antecipatória, muitas vezes irreal ou excessiva relativamente a situações futuras. 

Quando o medo e a ansiedade estão presentes de uma forma persistente, excessiva e num grau elevado de intensidade, estas tornam-se patológicas, interferindo negativamente no bem-estar e qualidade de vida da pessoa.

A investigação sobre esta doença tem sido intensa, esperando-se que com o futuro se perceba melhor as causas desta doença e, assim, tornar os tratamentos ainda mais eficazes.

 


O que são Ataques de Pânico? 

Um ataque de pânico caracteriza-se pela presença de episódios recorrentes de ansiedade grave e intensa não relacionada com acontecimentos reais, mas sim com a interpretação que se faz do mundo em volta. 

A pessoa com este problema pode começar por sentir o coração a bater mais depressa (taquicardia), ou por não conseguir respirar e/ou por sentir como se estivesse a morrer ou a ficar louco. 

Os ataques de pânico podem, muitas vezes, acontecer quando a pessoa está longe de casa, bem como, podem acontecer em qualquer lugar e em qualquer momento, por exemplo, enquanto está a fazer compras, a passear na rua, a conduzir, ou até mesmo sentado no sofá.

Os sinais e sintomas de um ataque de pânico desenvolvem-se abruptamente e, geralmente, atingem o seu pico em 10 minutos. A maioria dos ataques de pânico têm uma duração de 20 a 30 minutos, e raramente duram mais de uma hora.

 


Quais São os Sintomas de Ataque de Pânico?  

Um ataque de pânico inclui uma combinação dos seguintes sinais e sintomas (basta 4 sintomas para se fazer o diagnóstico):

• Batimentos cardíacos fortes e acelerados

• Suores

• Tremores

• Dificuldade em respirar

• Dor no peito ou desconforto nessa zona específica

• Náuseas ou perturbações gastrointestinais

• Tonturas, sensação de desmaio

• Sensação de que nada é real ou de estar separado do seu corpo

• Medo de perder o controlo ou enlouquecer

• Medo de morrer

• Sensação constante de formigueiro ou dormência

• Arrepios ou calor súbito ou suores frios

 


O que é a Perturbação de Pânico? 

 

Quando os ataques de pânico não são tratados, a pessoa pode vir a desenvolver uma perturbação de pânico e/ou outros problemas. 

Para o diagnóstico de Perturbação de Pânico, é indispensável a presença de ataques de pânico frequentes e inesperados, provocando sofrimento e condicionantes no quotidiano do indivíduo. 

Pelo menos um destes ataques de pânico deve seguir-se por uma ou mais das seguintes características que persistiram pelo menos longo de um mês:

• Preocupação persistente com a possibilidade de acontecer um novo ataque

• Preocupação relativamente às consequências dos ataques de pânico (p.e., poder perder o controlo)

• Haver uma modificação significativa no comportamento relacionado com os ataques de pânico

Uma das principais consequências no quotidiano é o evitamento das situações indutores dos ataques de pânico, levando muitas vezes à desistência de atividades normais e anteriormente desejadas e prazerosas. No entanto, os ataques de pânico poderão ser tratados, e quanto mais cedo se procura ajuda, mais fácil será melhorar. 

Embora um ataque de pânico dure apenas alguns minutos, os efeitos dessa experiência podem permanecer de uma forma duradoura. As memórias de ansiedade e medo intensos sentidos no ataque de pânico podem afetar negativamente a auto-confiança e causar graves distúrbios na vida quotidiano, levando aos seguintes aspetos da perturbação de pânico:

Ansiedade antecipatória: em vez de se sentir relaxado, o doente mantém-se ansioso e tenso entre os ataques de pânico,. Esta ansiedade provém do medo de ter ataques de pânico futuros, estando “medo do medo” presente na maior parte do tempo, podendo ser bastante incapacitante.

Evitamento fóbico: a pessoa começa a evitar determinadas situações e/ou ambientes, estando este evitamento interligado com a crença de que a situação que está a evitar causou os ataques de pânico anteriores. A pessoa pode, ainda, evitar lugares onde prevê ser difícil fugir ou haver uma falta/pouca ajuda, quando tiver um ataque de pânico. Este evitamento, se se tornar extremo, poderá implicar o desenvolvimento de uma perturbação de pânico com agorafobia.

 

É um ataque de coração ou um ataque de pânico?

Embora seja importante descartar possíveis causas médicas de sintomas como dor no peito, taquicardia ou dificuldade em respirar, é muitas vezes o pânico que é negligenciado como uma causa potencial e não o contrário.

O que é uma Perturbação de Pânico com Agorafobia? 

A agorafobia está presente quando o medo de ter ataque de pânico o leva a pessoa a evitar determinados locais ou situações, nas quais anteriormente desenvolveu um ataque de pânico. Evita esses locais, principalmente porque se tivesse um ataque de pânico de novo, poderia ser difícil fugir, pedir ajuda ou tornar-se uma situação embaraçosa. 

Este evitamento continua a subir de frequência, evitando cada vez mais, por exemplo, andar em locais com muitas pessoas, como centros comerciais, teatros, transportes públicos. Em casos mais graves, pode somente sentir-se seguro em casa.

Situações geralmente evitadas quando se tem agorafobia:

Estar longe de casa

Sair de casa sem o acompanhamento de uma pessoa de segurança

Esforço físico (devido à crença de que poderia despoletar um ataque de pânico)

Locais onde a fuga não está imediatamente disponível (p. ex., restaurantes, cinemas, etc.)

Conduzir

Locais onde seria embaraçoso ter um ataque de pânico

Comer ou beber qualquer coisa que poderá provocar um ataque (p. ex., cafeína, álcool, etc.).

 


Quais são as Causas Para os Ataques de Pânico e para a Perturbação de Pânico? 

Embora se desconheçam as causas exatas para os ataques e para a perturbação de pânico, existe uma tendência familiar. Existe também uma ligação destes problemas com transições importantes de vida, como entrar para a faculdade, iniciar um novo trabalho, casar e ter um filho, bem como o stress elevado relacionado com a morte de um familiar, divórcio, ou perda de trabalho.

Os ataques de pânico podem ainda ser causados por condições médicas e/ou outras causas físicas. Por isso, perante sintomas de ataque de pânico, é importante consultar um médico para excluir as seguintes possibilidades:

Prolapso de válvula mitral — um problema cardíaco causado quando uma das válvulas do coração não fecha corretamente

Hipertiroidismo

Hipoglicemia

Uso de estimulantes (anfetaminas, cocaína, cafeína)

Paragem de medicação


Como se Trata a Perturbação de Pânico?

A Perturbação de Pânico é uma perturbação progressiva que necessita de tratamento eficaz. Estima-se que em Portugal 280 mil pessoas se encontrem afetadas, sendo mais frequente no sexo feminino, e em idades jovens (adolescência e início da idade adulta). Contudo, está presente em qualquer idade. 

Os ataques de pânico e a perturbação de pânico são condições tratáveis. Geralmente podem ser tratados com sucesso através de estratégias de auto-ajuda ou uma série de sessões de terapia.

Terapia Cognitivo-Comportamental

Esta terapia é geralmente vista como a forma mais eficaz de tratamento, focando nos pensamentos automáticos e crenças associadas às sensações corporais e nos comportamentos que mantêm ou desencadeiam os ataques de pânico. Ajuda a pessoa a olhar para as situações temidas de uma forma mais realista e racional.

Exposição Sistemática

A importância da exposição às crises de pânico é a oportunidade que se cria de forma a que o paciente e o terapeuta teste as três suposições básicas do doente com pânico: incontrolabilidade da crise, inexorabilidade da crise (inflexível/implacável) e a interpretação como catastrófica.

Nesta terapia, a pessoa é exposta às sensações físicas do pânico num ambiente seguro e controlado, dando-lhe a oportunidade de aprender diversas estratégias mais saudáveis para lidar com a situação temida. São realizados diferentes exercícios que causam sensações semelhantes aos sintomas de pânico. A cada exposição, o medo das sensações corporais internas diminui e a pessoa desenvolve uma maior sensação de controlo sobre o seu pânico.

Caso apresente agorafobia, acrescenta-se ainda a exposição aos locais e situações evitadas.

 


Fontes

American Psychiatric Association (2000). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4ª Ed.). Washington, DC: APA.

 

Autores: Sara Moitinho e Helena Espírito-Santo, 2013.

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